Bom. Acho que dei uma pincelada nisso no meu último post, mas acho legal reforçar. O Cinematopeia fala sim sobre trilhas sonoras de filmes, mas também fala de como o cinema imita a vida e a vida imita o cinema. Esse é o principal argumento para poder construir o texto de hoje. Quero comentar mais uma vez sobre ”Os Croods”, mas já adianto, para que você não fique entediado e saia correndo dessa coluna, que a ótica da análise de hoje é através da lente do empreendedorismo e criatividade.

 

Nos últimos seis meses fiquei um tanto obcecado por livros que tratam sobre esses assuntos. As experiências profissionais que tive a oportunidade de vivenciar contribuíram para crescer o repertório, mas a verdade é que esses são temas que sempre me provocaram a curiosidade. Digo mais. Pelo teor das coisas que já li, posso dizer que são temas que chamam a atenção de muita gente e podem ser tratados de formas muito variadas. ”Os Croods” é uma dessas maneiras de conversar sobre criatividade e empreendedorismo e, durante o filme, temos a oportunidade de ver três elementos que, juntos, fazem a gente pensar sobre a arte de empreender.

O primeiro grande argumento dessa nova animação é o que o grande parte de nós conhece por “Mito da Caverna”, de Platão. Fazendo uma citação direta da Wikipedia, o Mito da Caverna “trata-se da exemplificação de como podemos nos libertar da condição de escuridão que nos aprisiona através da luz da verdade, onde Platão discute sobre teoria do conhecimento, linguagem e educação na formação do Estado ideal”. A história da caverna representa algumas pessoas presas, incapazes de sair da caverna, e que apenas têm acesso a uma realidade que acreditam ser verdadeira (a sombra dos objetos e animais que passam lá fora). Quando uma dessas pessoas consegue se libertar e tem acesso à “realidade real”, ela pode voltar à caverna e ser ignorada pelos companheiros, ou sofrer represálias por estar “falando bobagem”.

Os Croods” começa exatamente assim e a força filosófica por trás do pai que impede que todos saiam da caverna é, na minha opinião, uma (para poupar seus olhos vou substituir o termo que iria usar aqui por “pulga”) pulga moral da história. Mas é uma moral não apenas para crianças. Essa moral pode ser sim levada a sério por muitos adultos que, no caso de Grug, o patriarca de ”Os Croods”, ainda têm um tipo de atitude de proteção exacerbada com seus filhos. Explorar o que está fora da caverna é sempre muito valioso e agrega muito ao nosso repertório, nem que a gente volte para a caverna algum tempo depois. 

O sair da caverna é apenas o primeiro ato na trama de ”Os Croods”. O segundo ato, também bastante presente no enredo, é quando a criatividade entra em cena e provoca a maioria dos personagens com a incrível capacidade de resolver problemas insolúveis e banais, como andar sobre plantas espinhosas ou despistar predadores. A criatividade aqui é representada justamente por um personagem novo (Guy), que leva tempo para conquistar a confiança de todos da família Croods e é responsável por apresentar o novo mundo fora da caverna. Não bastasse isso, a criatividade (nesse caso, o personagem Guy) é responsável por trazer o terceiro elemento necessário para a nossa análise; o bicho-preguiça.

Não sei se tem algum objetivo claro dos produtores, diretores e roteiristas com a inserção desse bicho-preguiça (eu acredito que sim), por isso quero deixar claro que a partir daqui as teorias são frutos exclusivos da minha imaginação. Então vamos lá. O bicho-preguiça, também conhecido como “Braço”, é o cinto da calça de Guy e também o fiel companheiro de jornada. Ironicamente, a preguiça é um dos personagens mais ativos de todo o filme, responsável por ajudar a família quando há alguma complicação ou na hora de tocar marimba (veja o filme!).

Sei que essa teoria já é bastante batida no meio, mas para falar de empreendedorismo e criatividade temos também que falar de preguiça. Sim. É clichê. Mas talvez a partir desse momento, dessa vírgula que vem em seguida aqui agora, não seja. Explico: criatividade e preguiça andam juntas. Together. Alter ego, tipo Batman e Coringa. Isso é bem simples de entender e, na minha opinião, uma das melhores dicas para se dar a quem não acredita ser criativo.

Depois de ler mais de 10 livros sobre criatividade nos últimos 4 meses, a conclusão que cheguei, muito bem representada no filme ”Os Croods”, é que não dá para passar 24 horas por dia trabalhando em algo e, ao mesmo tempo, querer ser criativo. A mente precisa do ócio, da preguiça, para poder acessar o inconsciente e encontrar respostas fora daquela linha de raciocínio em que você está debruçado. É o que o autor Amit Goswami (excelente autor e físico quântico) chama de “Dobedobedo” (só para lembrar que estamos falando de ”Os Croods”, e não de Scooby-doo, ok? Caso você tenha se perdido no meio do caminho, leia os dois últimos parágrafos).

O método “dobedobedo” nada mais é que intercalar o fazer (Do) com o ser (Be) e, a partir daí, encontrar um equilíbrio que leve a gente a uma criatividade progressiva. Progressiva porque não é de uma hora para outra que, praticando o “dobedobedo”, a gente consegue ser um pulga (censura novamente aqui) criativo. Mas aos poucos, praticando, quem sabe? Aquelas ideias geniais que gostaríamos de ter no banho, fazendo a barba ou correndo no parque são super possíveis.

O conceito que quero passar é que sim, vamos trabalhar, vamos nos esforçar e vamos transpirar. Mas também precisamos dar um tempo ao cérebro para que ele processe as informações e encontre respostas um pouco diferentes daquelas que estamos acostumados a pensar, em nossa mente analítica e racional. Como diz aquela famosa frase de Eistein, sucesso e inspiração são resultados de 10% de inspiração e 90% de transpiração. A proporção do “Dobedobedo” talvez seja algo próximo disso, mas lembre-se que a preguiça está sempre por perto.

Óbvio que não deu tempo (espaço) pra entrar no assunto empreendedorismo. Fica para uma próxima oportunidade. Mas a intenção é mostrar que sem o trabalho, a criatividade, a preguiça, a vontade e o gosto de fazer, o empreendedorismo não acontece. Só adicionaria um outro elemento bem importante no meio de tudo isso; o planejamento. Para poder correr no parque, tomar banho, fazer a barba ou tirar a preguiça sem a preocupação da calça cair (e ter boas ideias), precisamos nos planejar. Se deixar tudo para a última hora, nunca seremos criativos.

 

Confira os post anteriores:

[TRILHA SONORA] – Cinematopeia de “O Lado Bom da Vida

[TRILHA SONORA] – Cinematopeia de “Os Croods” #01

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