CineOrna_EspecialOscar2015

A cada edição do Oscar, considero sempre interessante conferir os indicados a Melhor Filme Estrangeiro. Não só por esse breve contato com outras culturas e/ou ouvir diálogos que não estejam em inglês, mas também analisar como estes artistas utilizam a linguagem cinematográfica e concebem suas histórias sem todo os aparatos ou as mãos pesadas de produtores hollywoodianos sedentos pelos prêmios.

Desta vez, os indicados trazem temas menos polêmicos, como aconteceu com os ótimos “Alabama Monroe” (“The Great Circle Breakdown“) e “A Caça” (“Jagten“), culminando na premiação do pseudo-existencialista “A Grande Beleza“. Os indicados são: “Timbuktu” (Mauritânia), “Leviatã” (“Leviafan“, Rússia), “Tangerinas” (“Mandariinid“, Estônia), “Ida” (Polônia) e “Relatos Selvagens” (“Relatos Salvajes“, Argentina).

CineOrna | Indicados

Timbuktu” – Não tive a oportunidade de ver o longa de Abderrahmane Sissako, que retrata a vida brevemente pacífica de uma família criadora de gado na desértica cidade de Timbuktu e que vê o lugar sendo ocupado por jihadistas, que implantam sua lei no vilarejo. Pelo trailer, é possível perceber belas composições fotográficas e uma narrativa próxima ao hibridismo, “gênero” que tanto nosso conterrâneo festival Olhar de Cinema gosta de selecionar. Foi bastante elogiado pela crítica afora, mas parece tímido diante dos outros concorrentes.

Leviatã” – Dirigido por Andrei Zvyagintsev, o filme mostra uma Rússia atual decadente, onde a velha fábula do “forte se aproveita do fraco” continua vigente, ainda mais quando o presidente da Câmara de uma cidade do norte do país pretende comprar o terreno do perturbado Kolia, que não quer se desapegar do lugar. O longa é bastante disperso, silencioso e ainda tem um baita pé no catolicismo. Vale pelas belas imagens rodadas no crepúsculo e uma sequência, em particular, em que Kolia e família comemoram um aniversário entre amigos no campo e quadros com importantes figuras políticas russas são colocadas servindo para uma brincadeira de tiro ao alvo. Ganhou o Globo de Ouro, mas não ganhou o BAFTA. Será que leva o Oscar?

Tangerinas” – Uma produção simples, mas não menos amistosa. Durante aqueles conflitos no início da década de 1990 após o fim da União Soviética, a Abecásia e a Geórgia entraram em conflito disputando o espaço da primeira. Habitantes estonianos retornam ao seu país de origem, mas poucos permanecem na região, entre eles o marceneiro Ivo (Lembit Ulfsak) e seu amigo Margus, um plantador de tangerinas. Ambos têm esperanças de fazer algum lucro com as frutas, mesmo com a guerra prestes a eclodir diante de suas portas. No meio disso tudo, o simpático Ivo abriga dois inimigos de guerra e já sacamos onde essa história vai levar. Sim, o roteiro é previsível, mas o carisma dos personagens faz com que seja uma experiência prazerosa de acompanhar. Faturou o Sattellite Awards e ganhou em premiações menores.

Ida” – Enquadramentos inusitados, fotografia monocromática, um bom toque da Nouvelle Vague que realmente faz parecer que o filme foi feito na década de 1960, lembrando “Os Amores de uma Loira“, de Milos Forman. Dirigido e escrito por Pawel Pawlikowski, acompanhamos a jornada da noviça Anna ao encontrar sua tia Wanda (Agata Kulesza) antes de prestar os votos no convento. As duas, então, realizam uma viagem pela Polônia para descobrir o túmulo dos pais da jovem, mortos ainda no tempo da Segunda Guerra, e que pode mudar completamente o destino de Anna. O título guarda passagens bastante marcantes, sutilezas no roteiro e uma forte e sensual atuação de Kulesza. Ganhador do BAFTA e em outros festivais. Concorre também ao Oscar de Melhor Direção de Fotografia.

Relatos Selvagens” – De todos os indicados, a produção argentina que tem dedo de Pedro Almodóvar, com roteiro e direção de Damian Szifron, é certamente a mais empolgante e maliciosamente divertida, mesmo sendo uma narrativa de segmentos (algo que é sempre um sinal de fragilidade, o que não vem ao caso aqui). Muito humor ácido e violência presentes e sem chances de repreensão, afinal, é impossível que cada ação tomada pelos personagens não tenha passado por nossas cabeças num dia difícil ou com muitos acessos de raiva. Lembra “Pulp Fiction” em alguns momentos, e não por menos, dos quatro indicados, é o filme que mais detém um estilo hollywoodiano. De quebra, tem Ricardo Darín invocando um Walter White em seu explosivo segmento. O ator não está presente o filme todo, mas “Relatos Selvagens” ganha o espectador de vez já em seu segundo relato. Recebeu o Goya Awards por Melhor Filme Íbero-americano e quase todas as indicações nos prêmios da Academia Argentina.

Com tantos fatores a favor dos filmes, em especial os importantes prêmios que “Ida” e “Leviatã” receberam, é difícil encontrar um consenso. “Relatos Selvagens” recebeu uma tardia estreia nos Estados Unidos, enquanto que o polonês fez uma bilheteira expressiva, mais até do que seu concorrente russo. Talvez os votantes da Academia se ausentem da responsabilidade em consagrar um filme que cutuca a austera (assim parece) política da Rússia, preferindo premiar “Ida” pela sua sensibilidade em mostrarem figuras femininas fortes e determinadas.

Uma decisão difícil e infelizmente apenas um leva a estatueta. E aí, qual é o seu favorito a Melhor Filme Estrangeiro?

Confira mais especiais Rumo Ao Oscar:

Rumo Ao Oscar: Melhor Trilha Sonora, por Gustavo Panacioni

Rumo Ao Oscar: Melhor Animação, por Isabele Orengo

Rumo Ao Oscar: Melhor Figurino, por Ana Lesniowski 

Rumo Ao Oscar: Melhor Ator e Melhor Atriz, por Kelvyn Kaestner

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