CineOrna_EventosOlharDeCinema2015

Em seu quarto ano de festival, foi a primeira vez que eu pude aproveitar melhor o Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba. Não só porque consegui ir a mais dias, mas sim pelo fato de apreciar a dinâmica do evento: os debates com diretores após as sessões e o mais legal, as conversas e encontros inesperados com amigos que gera aquela troca de experiências sobre cada filme visto ou, de praxe, aquela dica sobre qual filme assistir em meio a uma quase centena de títulos.

Na 4ª edição do Olhar, apreciei parte dos selecionados da Competitiva de Longa-metragem e alguns filmes da Mostra Outros Olhares, tanto curtas como longas, a qual gostaria de comentar neste texto.

Basicamente, os filmes que compõem a “Outros Olhares” geralmente fogem da regra de estrutura narrativa convencional, e aqui predomina o experimentalismo, termo que, ao meu ver, muitas vezes surge para denominar um filme com ideias prematuras que não deram certo, mas ainda postas em prática. Não que isso há de ser visto pejorativamente, no entanto, muitas vezes parece capricho dos diretores em hesitar em cortar planos apenas para dar ares de distinção do ruidoso circuito comercial.

Em primeiro lugar, o longa mexicano “Maldade” (“La Maldad“) tem um contexto interessante, mas estrutura que é bom, quase nada. No núcleo da história, um senhorzinho campestre muito ambicioso: mal tendo dinheiro para sobreviver, ele planeja fazer um filme contando sua história de vida quando sua amada lhe deixou há muito tempo e, para isso, vai até a capital para tentar financiamento pela agência de cinema do país. O velho Rafael tem um amigo que costuma visitá-lo, mas sua morte está próxima e o homem tem receio de seu último suspiro, implorando para Rafael matá-lo quando chegasse a hora. Alguns pares de falas de forte cunho político-social são faladas durante o filme, mas não dialogam com seu tomo, sobrando apenas longos planos que tentam simular o trabalho do conterrâneo Carlos Reygadas.

O nacional “Homem-Carro” foi uma surpresa agradável. Uma breve viagem a partir da década de 1960, quando o designer e piloto Anisio Campos começou a tirar do papel seus projetos automobilísticos, desde carros de corrida a modelos urbanos; todos eles com uma boa história para contar, em tempos onde as grandes montadoras engatinhavam sua produção no país. Feito de filha para pai, a diretora Raquel Valadares consegue traçar um registro honesto da obra do pai em tempo de preservar suas memórias. Um dos automóveis mais conhecidos desenhados por Campos é o Buggy Tropí.

Assim como a “Mirada Paranaense”, a mostra de curtas-metragens da “Outros Olhares” também foi divida em duas partes, das quais só consegui assistir uma, marcada por experimentos cênicos e de linguagem:

The events at Mr. Yamamoto's alpine residence

The events at Mr. Yamamoto’s alpine residence – Tilman Singer, Alemanha, 2014

Sem dúvidas, é o curta com a produção mais luxuosa da sessão, e certamente o que tem de tudo um pouco o que é nostálgico. Uma solidão agonizante típica dos filmes de Stanley Kubrick assola uma moça entediada numa mansão castigada pelo inverno. E aí, a história vira um sci-fi, lembrando as películas futuristas e espaciais da década de 60. Em suma, parece até uma vinheta da antiga MTV…

Cat

Cat – Philippe Lasry, França, 2014

Um experimento curioso. Uma inicialmente carrancuda professora de teatro pede para uma aluna, portadora de necessidades especiais, contar uma história sobre um gato que teve na infância, a ser representada por seus outros colegas, também P.N.E.s. As resoluções por aqui são lentas, mas solenemente suficientes para a proposta.

Children's Playground

Children’s Playground” – Pablo Molina Guerrero, Chile, 2014

Crianças podem ser más, se não demoníacas. É o que quer provar este curta que recorta diversas cenas de filmes com crianças pervertidas e endiabradas. Se no início este exercício de montagem parece ser interessante, e até divertido, logo beira a um ataque epiléptico com tantos picotes e uma trilha insana.

Bear

Bear” – Pascal Flörks, Alemanha, 2014

Simples em sua execução, afinal traz uma consecutiva montagem de fotos e uma narração confortável, a história aqui chega a emocionar e proporcionar boas risadas considerando o fictício e absurdo fato de se ter um avô urso, que fora até paraquedista durante a Segunda Guerra Mundial.

Escapa dos meus olhos

Escapa dos meus olhos– Felipe Bragança, Brasil/Alemanha, 2015

Este documentário traz um tema polêmico: negros oriundos de diversos países na África em solo alemão. O que no início parecia apenas um mero documentário sobre a ocupação de uma praça com barracos, logo se torna uma recriação intrigante das histórias, amorosas e até místicas, de cada imigrante. Ainda que um pouco extensos, são contos de eternas lutas e de perdas de um povo que é voluntariamente ofuscado por uma classe dominante.

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