Uma mulher tenta sobreviver em uma mansão mal assombrada repleta de fantasmas e tormento. É essa a relação clara que “Spencer” traz ao retratar uma viagem de final de ano de Princesa Diana ao interior para cumprir mais uma tabela de compromissos reais em que ela é obrigada a se portar e suportar uma série de encontros e conversas que a consomem por dentro.

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A referência ao cenário de suspense está não apenas no visual e no clima vivido pelos personagens como no centro de seu roteiro. É nesse jogo que o filme imagina os últimos momentos de Diana como membro da família real. A memória e a História, então, dão forma a uma fantasma de verdade: Ana Bolena. Como parte da trama que ao mesmo tempo assombra e espelha a protagonista, Ana Bolena é a referência mais forte já existente de uma mulher que desafiou os padrões da monarquia e teve um final trágico.

Ainda que não seja tarefa fácil, a trama faz o possível para prevenir o sentimento de que essas duas jovens tiveram o mesmo destino. “Spencer” indica que a permanência de Diana naquele ambiente que a prendia, seja em uma mansão ou em um castelo, seria seu fim digno de filme de terror. Assim, vemos a personagem de Kristen Stewart definhar. Porém, a vemos também transgredir o que lhe é imposto, lutar contra a extinção interna que sofria, batalhar por seus ideais, seu caráter, o que e quem sempre foi. 

Dessa forma, Ana e Diana recebem desfechos opostos. Enquanto a primeira não encontrou sua saída – metafórica e literal, a garota Spencer corre. Está nesta montagem, das Dianas em fuga, uma das cenas mais simbólicas do filme e, com ela, queremos fugir também. Não mais com medo, mas abraçando a liberdade, que sabemos ter conquistado a partir dali. Seja por algum momento, ou por muitos, a realidade nunca saberemos. 

“Spencer” marca um retrato delicado que demonstra respeito e cuidado – de sua fotografia ao seu figurino – para uma personagem que se libertou de seus monstros internos e fantasmas reais. Stewart interpreta algumas das faces de alguém que já vimos retratada de tantas maneiras. A entrega em busca da profundidade, moldura e camadas a mais para trazer a mulher e mãe que nos conectamos no longa e é, de fato, um dos pontos mais altos da produção. Interessante ver os avanços da atriz, que além das indicações nessa temporada, merece todo o destaque dado a ela desde os primeiros lançamentos do filme.