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Não é de hoje que viver de (e para a) música é algo alcançado apenas por um grupo restrito de artistas, muitos deles com um árduo caminho trilhado, sem contar um ou outro sacrifício feito em prol de uma carreira que pode ser promissora. Com Ricki Rendazzo (Meryl Streep), isso não é diferente. O longo devaneio de ser uma rockstar é abalado quando Ricki precisa retornar para sua família e voltar ao papel de mãe, nos proporcionando tocantes momentos de reconciliação.

CineOrna | Ricki and The Flash - PÔSTER

Se Ricki transborda de alegria e quase êxtase ao tocar sua guitarra Telecaster diante do seu público pequeno-mas-fiel em um bar na Califórnia, tocando clássicos do rock junto com a sua banda The Flash, aos poucos descobrimos que esta mulher forte, carismática e independente está a beira da falência financeira e cobre o “tempo livre” trabalhando num caríssimo mercado de produtos orgânicos para garantir uma renda maior. Pelo menos, Ricki conta com o apoio de Greg (Rick Springfield), o guitarrista solo da banda e também seu ficante de longa data (ou aquele em que ela procura descontar a raiva). As constantes chamadas do ex-marido no celular começam a atormentar a cantora e Ricki não vê alternativa melhor do que enfrentar as caras duras de seus filhos, tudo para salvar sua deprimida e autodestrutiva filha Julie (Mamie Gummer), arrasada pela traição de seu recente marido.

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Com seus toques pessoais, a roteirista Diablo Cody (“Juno“, “Jovens Adultos“) traz para “Ricki And The Flash: De Volta Pra Casa”  uma história contemporânea e densa, que cutuca o atual Governo dos Estados Unidos, o preconceito ainda vigente com o estilo de vida rock n’ roll e até mesmo com questões de orientação sexual, abordadas no conflituoso jantar em família com Pete (o ex-marido que sempre guarda uma quedinha vivido por Kevin Kline), Julie e seus irmãos Josh (Sebastian Stan) e Adam (Nick Westrate), este acusando a mãe de ser uma controversa homofóbica, considerando sua vida tão “liberal”. Mas a Ricki/Linda Brummel de Streep não é uma megera como os filhos a pintam (embora com toda a razão), pelo contrário, a vocalista é uma mãezona divertida (meio boca-suja também…), que não vai deixar a filha sucumbir, nem que seja fazendo uma piada com o nome de uma menina e de uma banda na loja de donuts ou comentando sobre a longevidade de um BigMac e, se precisar, nem o cartão de crédito do ex-marido traidor da filha escapa ileso.

Registrando as performances da banda “ao vivo”, o que faz com que o repertório de músicas contenha mais energia, sobretudo ao tocar sucessos de Bruce Springsteen, U2 e até Lady Gaga, o diretor Jonathan Demme consegue extrair de Streep uma autêntica roqueira que poderia muito bem fazer sucesso fora do filme, entregando uma grande atuação (o que não é novidade) e até a filha consegue se sair bem diante da grandiosidade técnica da mãe.

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Há quem espere aqui um final mais feliz, onde a música resolve tudo no final, com as mais solenes das reconciliações, o que pouco acontece, por bem ou por mal. Certas atitudes do passado têm consequências (quase) irreversíveis e levam tempo para curar, mas o importante é que uma mãe sempre ama todos os filhos, seja lá qual for seu estilo musical.

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