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Ao contrário de muitos cinéfilos, meu primeiro contato com a filmografia de Quentin Tarantino foi com os dois volumes de “Kill Bill“. Tudo porque, lá por 2004, eu mantinha o hábito de alugar filmes em DVD todos os sábados em uma unidade da Blockbuster (antes de virar aquela bagunça chamada “Americanas Express”) e sempre via a caixa com aquela capa amarela com Uma Thurman encarando qualquer um que se dispusesse em seu caminho. Uma vez assistido, fiquei bastante curioso com todo esse universo sangrento, mítico e tagarela que o diretor escreveu. Anos depois, veio “Bastardos Inglórios“, o qual vi após a entrega do Oscar a Christoph Waltz por sua performance como Coronel Hans Landa e não tardou para que eu visse o anterior a este, “À Prova de Morte“, que diverte mesmo com uma primeira metade exaustiva.

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Ainda que o nome me era familiar, assim como seu icônico pôster, faltava assistir a um dos títulos mais “obrigatórios” e cultuados por qualquer um que goste de cinema – o segundo filme de Tarantino: “Pulp Fiction: Tempos de Violência“. Será este o melhor filme do diretor mesmo?

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Lançado em 1994, dono de um Oscar de Melhor Roteiro Original e respirando cultura pop, o filme segue o mesmo exercício que o diretor e sua editora Sally Menke já haviam praticado em “Cães de Aluguel“: a montagem não-linear com direito a vários pontos de vista, aqui com uma verborragia pra lá de efusiva e mais empática que, já conhecendo as regras estabelecidas neste universo, sempre reserva surpresas inesperadas, pra não dizer “chocantes”. Acompanhamos de perto, então, as vidas de Ringo (Tim Roth) e Yolanda (Amanda Plummer), Vincent Vega (John Travolta) e Jules Winnfield (Samuel L. Jackson), Mia Wallace (Uma Thurman) e seu marido Marsellus (Ving Rhames), além do pugilista Butch (Bruce Willis) e sua noiva Fabienne (Maria de Medeiros); mal sabendo eles (e nós, é claro) que seus destinos estarão coligados de alguma forma. E, se o elenco estelar já é o suficiente para acompanharmos com atenção os capítulos que se seguem, pra ficar ainda melhor, há uma nostálgica trilha sonora selecionada a dedo por Tarantino que vai da adrenalina das guitarras de Misirlou à badalada Girl You’ll Be A Woman Soon.

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A comédia de ação “Par Perfeito” foi o tema do nosso último especial #ClássicosCineOrna

Com seus 158 minutos de duração até que bem aproveitados, em geral, existem passagens no filme que dão a entender que Tarantino não havia alcançado sua plena forma de diretor, apoiando-se em seus textos de cenas longas para aproveitar melhor as performances de seu elenco – ainda que esbanje muito papo-furado que não leva a nada. Desconsiderando a boa parte de planos fixos em que filma as ações com seus pontos de luz bastante evidentes, há de se tirar o chapéu para o potencial imagético do diretor ao utilizar economicamente a linguagem cinematográfica criando quadros icônicos e uma mitologia própria que a cinefilia põe em pauta até hoje, vide o caso da valise que Jules e Vincent vão resgatar no apartamento. Afinal, se trata da mesma tão disputada em “Cães de Aluguel“? A katana que Butch apanha na loja é uma letal Hattori Hanzo?

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Os haters podem falar à vontade: que Tarantino é o mestre do egocentrismo; que copia enquadramentos de seus filmes prediletos, reciclando-os em suas próprias obras; que é “muito violento” e daí em diante. Não há dúvidas, porém, que “Pulp Fiction” envelheceu bem nestes vinte e dois anos passados desde o seu lançamento e, por mais que tenha seus deslizes, é tão gostoso de assistir quanto o café gourmet que o personagem vivido pelo próprio Tarantino serve a Jules e Vincent na manhã depois do explosivo incidente no carro. Do papo sobre os nomes de lanches de redes de fast food na Europa a inesquecível competição de dança ao som de Chuck Berry no Jack Rabbit’s Slim, o filme vive no nosso imaginário e não é por causa do GIF do John Travolta que volta e meia persiste em viralizar (aliás, agora a cena original fica ainda mais cômica por conta disso). É na sua transgressão da realidade que nos divertimos e até ansiamos em ter um pouco dessa atitude de não pensar duas vezes em fazer algo insano.

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Onde ver: disponível no catálogo da Netflix, em Blu-ray e DVD distribuído pela Imagem Filmes.