A desenvoltura agressiva, travestida de melodrama, de “Preciosa” mostrava Lee Daniels contido em obter apenas respeito e notoriedade nos festivais internacionais pela forma brusca e exagerada com a qual o texto de Geoffrey Fletcher encontrava nos devaneios estilizados do diretor o drama da jovem Precious. Não mudando muito a estrutura fílmica, mas potencializando o exercício de estilo quanto à violência visual e moral, o novo longa do diretor, que estreia no país com um ano de atraso, “Obsessão”, é um curioso experimento em instigar no espectador uma co relação com um universo hostil e brutal.

 

Numa viagem ao interior sulista americano sessentista, completamente hostilizado e caipira, o diretor mergulha numa tese sobre a autodepreciação humana, com base no desencadear de um crime que, supostamente, não fora julgado com todos os fatos completamente apurados, buscando na problemática do universo dos personagens, de suas escolhas ou da vulnerabilidade provida da falta de amor próprio, um estudo que se estabelece justamente pela falta de interesse com a trama. O aspecto anti higiênico da fotografia suja, que remete grande parte ao preconceito da época, dão aos personagens as camadas necessárias para que se compreendam suas frustrações. Não fosse o descontrole do tratamento dado à narrativa, ou a opacidade gradual com a qual o argumento se degrada diante do inchaço estilizado em criar um suspense convincente, o filme de Daniels potencialmente seria uma obra muito mais aguçada e impactante. Mas, por enquanto, se justifica apenas no desempenho e nos momentos memoráveis de Nicole Kidman.

 

 

Ainda que “Obsessão” seja sua obra mais curiosa, e é um dos motivos pelo qual eu tentei não entregar tanto da proposta narrativa ao criticá-la, a sensação que se tem nos filmes de Lee Daniels é a de que os personagens, ou mesmo o espaço/tempo explorados, estão sempre a um passo à frente de sua dimensão quanto realizador. A busca por uma identidade fílmica notável transforma seus longas em meras experiências, por horas perturbadoras e catastróficas, mas nunca tão viscerais quanto desejam ser. 

 

Não deixe de conferir as novidades do CineOrna através das nossas redes sociais:

Facebook | Twitter | Filmow | G+ | Instagram | Tumblr | Pinterest