Comédia romântica é um gênero pouco original. Poucos filmes desse tipo são relevantes ou dignos de atenção, menores ainda são as chances de achar algum que se possa tirar alguma lição para a vida. Mas tudo isso some quando o nome “David O. Russell” aparece encabeçando o projeto.

 

Bradley Cooper é um sujeito chamado Pat, bipolar, acabando de sair de uma clínica de tratamento. Pat é um sujeito otimista cuja filosofia pessoal é a do “Excelsior” (“sempre para cima”, em latim) e ao ser levado pra casa pela mãe (Jacki Weaver), crê fielmente que vai conseguir recuperar sua mulher, que o havia traído, após estar recuperado da tal doença. Certa vez em uma janta na casa de um amigo, ele conhece Tiffany (Jennifer Lawrence), uma mulher que adquiriu problemas de sociabilidade após a morte precoce do marido. Pat pede para que Tiffany entregue suas cartas para a antiga esposa e, em troca, ela o pede que ele a ajude num concurso de dança. Claro que, por se tratar do gênero, é provável que já se saiba do final antes dele acontecer, mas o filme vai caminhando por direções surpreendentes, entrando lentamente na cabeça do espectador, onde é possível que se tire uma boa lição das situações em que os personagens são postos.

Se o roteiro adaptado pelo diretor David O. Russell é feito em grande parte de diálogos ágeis e praticamente ininterruptos, isto é compensado por atuações que os fazem soar naturais.

Mas não só de agilidade vive o roteiro, além disso, ele se comunica diretamente com a plateia, como na cena de uma das atividades físicas entre Pat e Tiffany. Ele diz que ela possui problemas maiores que os dele, ela responde dizendo que sabe de seus problemas e os aceita, concluindo com um “você pode dizer o mesmo, filho da puta?”, indagando não só Pat, mas também o espectador. Há também aquelas clássicas frases que dizem “o mundo te quebrará algumas vezes” mas nada soa falso ou didático demais, tudo é muito bem medido.

É interessante a sutileza da direção e do roteiro (sem contar na ótima trilha sonora, que vai desde Stevie Wonder a Jessie J) ao delinear as diferenças que os dois protagonistas têm da sociedade e também o sentido do título (no Brasil um tanto preguiçoso). A dança que Tiffany cria para eles é totalmente diferente da dança dos outros participantes, e as críticas também, mas mesmo com o resultado fraco para uma dança inspirada, eles saem felizes, não só por terem alcançado seus objetivos no mundo futebolístico, mas por conseguirem lidar não apenas com seus problemas como também com o dos outros.

Além de Cooper e Lawrence, que constroem uma química essencial para o filme, destaca-se também Robert De Niro, que já há algum tempo não entregava ao público algo tão digno de reconhecimento. Ele interpreta o pai de Pat com a desenvoltura que fazia falta aos admiradores do ator. Jackie Weaver, que vive Dolores, mãe de Pat, é igualmente competente em seu trabalho, mas infelizmente não tem o tempo de tela que merecia, sendo ofuscada em alguns casos por De Niro, que rouba todas as cenas.

 

 

O Lado Bom da Vida” segue a mesma estrutura narrativa das comédias românticas contemporâneas, mas conta uma história infinitamente mais interessante que a maioria dos filmes deste gênero, com uma abordagem que tenta visivelmente fugir dos clichês e com um conteúdo que transborda da tela, gerando interessantes reflexões a respeito de como escolhemos encarar a vida e nós mesmos. 

 

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