Se você chega até “A Mão de Deus”, disponível na Netflix, através das listas de indicados a Melhor Filme Estrangeiro da temporada de premiações deste ano, provavelmente se surpreende ao descobrir que a tal mão que dá título a trama é a de Maradona. A partir daí tenta encaixar um filme italiano com Maradona e não demora a descobrir que o jogador teve um relação com a cidade de Nápoles. Aquele tipo de trivia esportiva que – a não se que você seja torcedor do time ou um fã de futebol bem estudado, nunca saberia.

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O fato curioso que dá título ao longa, porém, pode enganar o público cinéfilo que já cria conexões e suposições de roteiro a partir daí. Isso porquê a presença de Maradona no filme é quase inexistente. A não ser pela costura na narrativa, pouco se tem ali do futebolista. O que se tem, e muito, é outro aspecto bastante italiano: A fé. A crença em algo superior. Seja religião, família ou um time de futebol. É dentro dessa tríade que vive Fabietto Schisa (Filippo Scotti), jovem protagonista desta história. Assim, “A Mão de Deus” se destaca como um ‘coming of age’ original, sensível e a – literais – quilômetros de distância das jornadas do gênero vindas de Hollywood.

“A Mão de Deus” definitivamente não é um filme típico da Netflix. Ainda que a plataforma abrace muita diversidade narrativa, um certo aspecto popular costuma marcar suas grandes produções. Esta, porém, entra para a sala de títulos como “Roma”, de Alfonso Cuarón, e “Identidade”, de Rebecca Hall [outro destaque do catálogo para as premiações deste ano]. A jornada de Fabietto não é próspera, nem extremamente difícil, ainda que tragédias percorram seu caminho. Mas isso não o torna menos interessante ou menos sensível. Pelo contrário, nos dá um protagonista que se aproxima e nos envolve em dramas sinceros de uma juventude delicada.

Neste retrato próximo do autobiográfico, o diretor Paolo Sorrentino (“A Grande Beleza” e “O Jovem Papa”) se permite determinar seu ritmo para contar sua história. Um estilo que possui referências clássicas no cinema de sua terra, com elementos como os despudores de Bertolucci e a obsessão pelas mulheres em sua volta de Fellini. É exatamente na mistura entre as bagagens estéticas e pessoais que Fabietto traz um sabor de autenticidade para a tela.

Para um momento em que você quer algo diferente em um catálogo de milhões, “A Mão de Deus” pode ser a escolha perfeita.