Talvez toda geração possa presenciar a despedida de um Bond, mas essa com certeza é a mais especial de todas elas. Pela primeira vez, um 007 sabe que está no seu episódio final e até mesmo já passou seu número para uma outra agente. Esse fato sozinho já dá margem para um roteiro emocionante e uma interpretação derradeira de Daniel Craig, que aproveita para dar adeus a um James Bond para quem ofereceu não apenas seu charme e audácia recorrentes, mas um tanto a mais de personalidade e gravidade também. 

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Essas marcas que trouxe desde sua primeira entrega a essa versão do icônico personagem estão aqui por uma última vez. Porém… Não, nem tudo é perfeito em “007: Sem Tempo Para Morrer”. Mesmo que as comparações com outros filmes da franquia recente não sejam muito justas, são inevitáveis. Como a parceria romântica com Eva Green em “Cassino Royale” ou o embate com o vilanesco Javier Bardem em “Operação Skyfall”, relações simbólicas na trajetória desse Bond, que carrega muito de seu passado neste encerramento. 

Ainda assim, Léa Seydoux traz um peso importante como seu derradeiro romance – tão importante emocionalmente que o longa até deixa de lado a sensualidade típica do personagem, que embora existente, está extremamente comprimida aqui para dar lugar uma dinâmica mais familiar. Por outro lado, o antagonista interpretado por Rami Malek traz consigo a vibe arquetípica da série, mas de uma forma nada divertida ou engajadora. Estão ao redor dele os pontos mais baixos do filme.

Como público, é preciso admitir que um episódio final emocionante, para uma franquia como essa, nos convida a abrir mão de receber a melhor das narrativas antagônicas da série. Aqui, a sobrevivência da população mundial depende de James e de sua equipe, que precisam se unir uma última vez para combater uma arma biológica em massa. Convenhamos, nada mais atual como ameaça global. Afinal, potencializar os medos contemporâneos faz parte dos filmes 007, ainda que movidos por um personagem que circula entre o óbvio e o desinteressante. 

A lista do que é típico na série e forma um filme clássico de James Bond, ainda assim, é longa e cheia de presentes aos fãs. A aflição da ação e do agente que precisa correr contra o tempo estão ali ao longo de toda a trama. Bond dirigindo carros diversos em cenas de ação ou em direção ao horizonte? Check. E um Bond moderno não se atem apenas aos esportivos, tá? Vestimentas de gala e Martinis? Check. Belas paisagens em cenas grandiosas? Com certeza check. 

Porém, é preciso dizer que “007: Sem Tempo para Morrer” traz muito mais do que os toques clássicos. O filme transborda e acrescenta a elementos reconhecidos, como solidão de ser um Bond. Suas feridas e fugas vão para muito além do valor de produção. Os escapes e resgates são também emocionais. Desde deixar seu número a se afastar de seus colegas e amores, Bond é levado novamente a perder tudo que tem e seguir uma jornada de volta. Não de seu status e do lugar que uma vez ocupou, mas de suas capacidades e habilidades como alguém que se doa pelo que e, principalmente, para quem ama. 

Por trás de todo grande terno, afinal, há um coração. E as armas que Bond precisa usar dessa vez para recuperar seu prestígio e sua família trazem toda ação que um fã de 007 pode pedir. Mas, antes de ir, um P.S. para as mulheres que compõe este episódio final. Desde a abertura com Billie Eilish até a participação de Ana de Armas, esse Bond está cercado das Bond Girls em sua melhor forma até então. A força e foco de Lashana Lynch como a nova 007 é de uma graciosidade que está longe da delicadeza e perto da autenticidade de uma agente severa e competente. Que este seja um bom sinal para o que está por vir, seja quando for.

“007: Sem Tempo para Morrer” já está disponível nas plataformas digitais para compra e aluguel e em DVD e Blu-Ray em lojas especializadas.