Estabelecidas desde os primórdios da sociedade moderna, as raízes do racismo se entrelaçam cada vez mais em nossos cotidianos, e apesar de não aparentes, são cada vez mais perigosas, ainda mais em recintos jovens e de grande incidência populacional. A universidade, um desses locais com grande ocorrência de casos racistas é o cenário perfeito de localização para “Cara Gente Branca“, a série e arma política da Netflix, e que já é considerada uma das melhores temporadas do ano.

Cara Gente Branca” conta a história da vida de certos jovens negros estudantes da Universidade Winchester, um local com predominância branca e que é conhecida por suas polêmicas racistas e total divisão entre seus alunos. É nesse ponto que a trama se inicia, uma das fraternidades da universidade é dona de uma revista de humor chamada Pastiche, uma revista totalmente intolerante em todos os sentidos possíveis. E em meio as comemorações de halloween os jovens da casa propõe realizar uma festa de “Blackface” (todos pintariam seu rosto de preto, para que se “tornem” negros), e nessa festa todos poderiam “libertar seu negro interior”, ao descobrir sobre a festa a comunidade negra decide por acabar com a mesma e com aqueles que a criaram, pois é totalmente incabível que uma festa com uma proposta como essa ocorra em pleno século XXI.

Após a festa, Sam White, apresentadora de um programa de rádio chamado “Dear White People” (cara gente branca), destinado a relatar os casos de racismo no campus, denuncia os acontecidos como forma de obter conhecimento do povo sobre essas atrocidades. Com esse programa a jovem consegue o reconhecimento da causa negra e assim os protestos aumentam ainda mais no recinto. “Cara Gente Branca” lida com os acontecimentos após a festa do blackface, mostrando como essa ação alterou e muito a questão racial dentro da universidade. A série em seus 10 episódios foca em cada episódio em um personagem como forma de mostrar como esses eventos mudaram suas percepções, e durante sua temporada a série mostra como um ocorrido leva ao outro, e como o racismo está muito longe de acabar.

Com muito humor e também com seriedade, a série trabalha com os mais diversos assuntos dentro do racismo, sempre com veracidade e realidade em suas discussões. Em meio a cenas mais fortes a série busca por não deixar uma linha sem ponto, questiona todas as ações sem se preocupar com a censura, cutuca a todos sem dó nenhuma. E com um padrão visual excêntrico a série mistura seus tons de comédia e drama em meio a visual instigante que permite lidar com o surrealismo e o realismo em um mesmo plano, com grandes e incríveis referências ao cinema, televisão, música, literatura, mundo pop e ao cenário social atual, o que ajuda a manter a comicidade de certas situações e a seriedade de outros (preste atenção na paródia de “Scandal” feita nos episódios).

Sempre questionando e criticando as situações de nosso mundo atual que aumentaram ainda mais o racismo a série não deixa de comentar sobre a violência policial e criticar as políticas malfeitas para solucionar esse enorme problema. Sua direção e fotografia são geniais, com cores vibrantes e lindas, a série encanta com seus enquadramentos precisos e movimentos de câmera sensíveis e delicados, cada frame é uma pequena pintura, e isso ajuda ainda mais na hora de montar as brilhantes referências. Créditos a direção feita no episódio 5, pelo ganhador do Oscar Barry Jenkins, que trabalhou de forma crua e real o abuso de poder, e que trouxe muita habilidade para as cenas mais serias e importantes, um real merecedor do Emmy.

Com um elenco iniciante, mas brilhante “Cara Gente Branca” ganha por sua honestidade e modo como percorre por sua trama durante a temporada, contando uma história diferente em cada um de seus episódios, mas que são todas conectadas, como se fosse cada episódio fosse uma peça de um quebra-cabeça e ao final temos ele completo, cada personagem importa e muito na história e também no estabelecimento de como o racismo afeta todas as camadas da população negra. Destaque para a incrível performance de Antoinette Robertson, que ao interpretar Coco, mostra a insegurança de muitas mulheres negras em meio ao ambiente social predominantemente branco e masculino, mas que durante a temporada vai aprendendo mais sobre si mesma e que ao final se torna uma mulher totalmente empoderada. Essa é uma mulher que já viu o que o racismo pode causar, que já sofreu muito e que tem experiência sobre o assunto.

Divertida, engraçada, viciante, mas também seria, crítica e altamente política, “Cara Gente Branca” é um marco televisivo, pois é uma das primeiras séries que conseguem trabalhar com o racismo de forma tão aberta e que obtém êxito em ensinar sobre o assunto. Todos os episódios contêm ensinamentos preciosos, mostrando porque o mesmo ainda não acabou. Seu roteiro brilhante facilita a abordagem e seu visual inteligente deixa a série ainda mais atraente, e o elenco torna tudo ainda mais confortável de se assistir. Uma grande série que merece todo o reconhecimento e repercussão por abordar temas tão importantes e atuais corretamente e didática.

9,5/10: Ótima!

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